sexta-feira, 4 de novembro de 2011













Santo Antão: estrada Porto Novo – Janela
Duas realidades divergentes

Com construção da Estrada que liga Porto Novo ao concelho do Paul a população responde aos desafios encetados pela diversidade de oportunidades para a ilha na altura da sua inauguração. De um lado há aqueles que acreditam estar a progredir em meio a abertura de novas melhorias ao nível do mercado. E há o lado mais cinzento em que as portas começam a fechar-se, a caminho da precariedade.
O concelho do Paul é um dos que saiu a ganhar com a inauguração da Estrada e os moradores daquele concelho acreditam que as suas potencialidades podem vir a crescer ainda mais. “ As zonas de extensão urbana entraram em franca expansão” afirma Vanda de Oliveira, Economista “e há cada vez mais pessoas a procura de bens e serviços o que acaba por aumentar o rendimento das famílias”.
Anteriormente, a população do Paul fazia cerca de uma hora para chegar ao Porto Novo, tendo que passar por Ribeira Grande. Este factor contribuía e muito para a situação de isolamento e estagnação relativamente ao crescimento económico. Hoje o concelho ganhou uma nova dinâmica, há uma maior circulação de pessoas vindas dos outros concelhos bem como de outras ilhas.
Segundo José Ferreira, presidente da Associação do concelho do Paul AMIPAUL, a Estrada trouxe maior mobilidade ao concelho, tanto a nivel economico como para a integracao social das pessoas. “A estrada permitiu um contacto rapido com o norte e o sul da ilha e ampliou o peso das cargas das estradas, possibilitando o aumento da circulacao de cargas pesadas e cargas pereciveis que chegam em melhores condicoes ao local de destino”.
Apesar dos ganhos, espera-se ainda que muitas portas sejam desencravadas para que, de facto, possam aproveitar os benefícios que a dada infra-estrutura proporcionou àquela região. Apostar no marketing rural e em novas infra-estruturas turísticas são alguns dos pontos reclamados pela população.

Vendedeiras paralisadas pela Estrada
Já na antiga Estrada o cenário é bem diferente. A grande mobilidade que existia no Planalto Leste deu lugar ao abandono. As vendedeiras sentem-se paralisadas com a situação “irreversível” em que aquilo se tornou e mostram-se receosas em relação ao futuro, quando as dificuldades são cada vez maiores.
“ A nova estrada pode ter trazido vantagens para a ilha” adianta Maria Pinheiro, comerciante, “ mas para nós que fazíamos os nossos negócios aqui, acabou tudo. Antes vendia aguardente, feijão e outros produtos e o rendimento era muito bom. Havia muitos carros e muita gente comprava”.
As vendedeiras têm de estar de pé as seis da manha para apanharem o carro que as transporta todos os dias ao concelho da Ribeira Grande. Pagam cerca de quinhentos ate ao concelho  e dali pegam a estrada para se aventurarem em outras paragens, percorrendo varios pontos da ilha a procura de compradores.. As despesas com o transporte chegam a ultrapassar os mil escudos e para muitas não têm compensado.
“ Geralmente, ganho cinquenta escudos por cada queijo, mas não dá para nada. Antes chegava a vender duzentos queijos num dia, porque tinha muitos fregueses e os condutores ajudavam-me a adquirir mais. Hoje só consigo vender dez queijos por dia” afirma Verónica Silva, vendedora de queijos.

 E o depois só Deus sabe
Verónica diz estar a pensar em desistir das vendas, porque o gasto com a deslocação não compensa. Tem sete bocas para sustentar e diz-se num beco sem saída, num lugar  onde as oportunidades de emprego são escassas. “O único plano alternativo que eu tinha era armazenar peixe seco numa arca que tenho lá em casa para depois vender, mas só há luz eléctrica das 07 as onze da manhã”, acrescenta.
 Maria só mora com a irmã que vende água ao lado da sua mercearia, numa antiga casa de queijo. Diz continuar com a pequena mercearia, apesar dos prejuízos, porque muitos dos produtos ultrapassam a validade por falta de compradores. O espaço é pequeno, mas mesmo assim é muito para tão pouca gente.
Apesar das dificuldades, é com um sorriso nos lábios que todas falam daquilo em que se tornou suas vidas, com um olhar de quem nunca perde a esperança em dias melhores.

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