Duas realidades divergentes
Com construção da Estrada
que liga Porto Novo ao concelho do Paul a população responde aos desafios
encetados pela diversidade de oportunidades para a ilha na altura da sua
inauguração. De um lado há aqueles que acreditam estar a progredir em meio a
abertura de novas melhorias ao nível do mercado. E há o lado mais cinzento em
que as portas começam a fechar-se, a caminho da precariedade.
O
concelho do Paul é um dos que saiu a ganhar com a inauguração da Estrada e os
moradores daquele concelho acreditam que as suas potencialidades podem vir a
crescer ainda mais. “ As zonas de extensão urbana entraram em franca expansão”
afirma Vanda de Oliveira, Economista “e há cada vez mais pessoas a procura de
bens e serviços o que acaba por aumentar o rendimento das famílias”.
Anteriormente,
a população do Paul fazia cerca de uma hora para chegar ao Porto Novo, tendo
que passar por Ribeira Grande. Este factor contribuía e muito para a situação
de isolamento e estagnação relativamente ao crescimento económico. Hoje o
concelho ganhou uma nova dinâmica, há uma maior circulação de pessoas vindas
dos outros concelhos bem como de outras ilhas.
Segundo
José Ferreira, presidente da Associação do concelho do Paul AMIPAUL, a Estrada trouxe maior
mobilidade ao concelho, tanto a nivel economico como para a integracao social
das pessoas. “A estrada permitiu um contacto rapido com o norte e o sul da ilha
e ampliou o peso das cargas das estradas, possibilitando o aumento da
circulacao de cargas pesadas e cargas pereciveis que chegam em melhores
condicoes ao local de destino”.
Apesar
dos ganhos, espera-se ainda que muitas portas sejam desencravadas para que, de
facto, possam aproveitar os benefícios que a dada infra-estrutura proporcionou
àquela região. Apostar no marketing rural e em novas infra-estruturas turísticas
são alguns dos pontos reclamados pela população.
Vendedeiras paralisadas pela
Estrada
Já
na antiga Estrada o cenário é bem diferente. A grande mobilidade que existia no
Planalto Leste deu lugar ao abandono. As vendedeiras sentem-se paralisadas com
a situação “irreversível” em que aquilo se tornou e mostram-se receosas em
relação ao futuro, quando as dificuldades são cada vez maiores.
“ A
nova estrada pode ter trazido vantagens para a ilha” adianta Maria Pinheiro, comerciante,
“ mas para nós que fazíamos os nossos negócios aqui, acabou tudo. Antes vendia
aguardente, feijão e outros produtos e o rendimento era muito bom. Havia muitos
carros e muita gente comprava”.
As
vendedeiras têm de estar de pé as seis da manha para apanharem o carro que as transporta
todos os dias ao concelho da Ribeira Grande. Pagam cerca de quinhentos ate ao
concelho e dali pegam a estrada para se
aventurarem em outras paragens, percorrendo varios pontos da ilha a procura de
compradores.. As despesas com o transporte chegam a ultrapassar os mil escudos
e para muitas não têm compensado.
“ Geralmente,
ganho cinquenta escudos por cada queijo, mas não dá para nada. Antes chegava a
vender duzentos queijos num dia, porque tinha muitos fregueses e os condutores
ajudavam-me a adquirir mais. Hoje só consigo vender dez queijos por dia” afirma
Verónica Silva, vendedora de queijos.
E o
depois só Deus sabe
Verónica
diz estar a pensar em desistir das vendas, porque o gasto com a deslocação não
compensa. Tem sete bocas para sustentar e diz-se num beco sem saída, num
lugar onde as oportunidades de emprego são
escassas. “O único plano alternativo que eu tinha era armazenar peixe seco numa
arca que tenho lá em casa para depois vender, mas só há luz eléctrica das 07 as
onze da manhã”, acrescenta.
Maria só mora com a irmã que vende água ao
lado da sua mercearia, numa antiga casa de queijo. Diz continuar com a pequena
mercearia, apesar dos prejuízos, porque muitos dos produtos ultrapassam a
validade por falta de compradores. O espaço é pequeno, mas mesmo assim é muito
para tão pouca gente.
Apesar
das dificuldades, é com um sorriso nos lábios que todas falam daquilo em que se
tornou suas vidas, com um olhar de quem nunca perde a esperança em dias
melhores.
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