Na
geração de hoje, “onde se encontram os Baltasar Lopes da Silva?” Foi uma das
perguntas que ficou, lançada pelo encenador João Branco, após encontro
realizado esta quinta-feira (25) no Centro Cultural Português entre escritores
como Germano Almeida e Carlos Araújo, historiadores e jovens estudantes, em
comemoração ao 39 aniversário do 25 de Abril. Uma data que simboliza a travessia
do povo lusitano para um novo regime político, com seus reflexos na libertação
de Cabo Verde, posteriormente, em 1975.
O
encontro, que ficou marcado pela leitura de algumas passagens de três obras
literárias de escritores cabo-verdianos – A
Dona Pura e os Camaradas de Abril de Germano Almeida, Entre duas Bandeiras de Henrique Teixeira de Sousa e Percurso Vulgar de Carlos Araújo – com
passagens e testemunhos das histórias vividas em Portugal e Cabo Verde, traduz-se,
nas palavras da directora do Centro Cultural Português do Mindelo, Ana Cordeiro,
numa “multiplicidade de olhares que é mais difícil conseguir numa análise
histórica”.
Após
leitura dessas três obras e da troca de experiências com testemunhos na
primeira pessoa de acontecimentos ocorridos tanto em Cabo Verde como em
Portugal, e em jeito de “provocação”, o dramaturgo questiona os motivos que
impulsionam as atitudes dos jovens de hoje, numa espécie de descontinuidade com
a atitude proactiva que marcou as gerações anteriores, então marcada pelas
clivagens histórico\partidárias, particularmente numa altura onde se
efectivaram as grandes revoluções. Perante a forma como, “se pôde constactar como este assunto efervescia no liceu, na
vossa geração, pergunto, quantos estudantes universitários sabem o que é o 25
de Abril e sua importância para a independência de Cabo Verde? Que tipo de
engajamento político é que esses estudantes têm hoje? Que tipo de preocupações
têm hoje?”, questiona Branco, lembrando que hoje se vive um outro tipo de
ditadura, “uma ditadura económica, uma ditadura financeira”.
A
proposta do Instituto Camões de trazer os três romances para se “debater”,
“discutir” sobre a revolução e a forma como foi vivida e percebida pelos dois
países (Portugal e Cabo Verde) e a ponte que se estabeleceu entre esta mudança
de regime português para a independência do povo de Cabo Verde, veio, nas
palavras de Ana Cordeiro “por um lado (…), recordar, revisitar o 25 de Abril”,
com a presença de “protagonistas desse acontecimento histórico” e, por outro,
“dar vida a essa data para aquelas pessoas muito jovens para os quais, de
facto, é apenas mais uma data histórica”.
“Penso
que a literatura é fundamental para a história, porque a literatura traz-nos
aquilo que se chama poeticamente o ar do
tempo, a espuma dos dias. Ao fim
e ao cabo a literatura traz-nos aquilo que não é facilmente tangível que são os
sentimentos, que são as ideias, os pontos de vista, enfim o próprio humor”, sublinha
Cordeiro. Nas palavras de Germano Almeida, “o 25 de Abril apressou a
independência e foi importante” para o povo de Cabo Verde, diferentemente de
Portugal, pois para esse povo “não terá sido o que eles sonharam, o que eles
quiseram”, lembrando, no entanto, que “há sempre o amanhã e sempre há amanhãs
que cantam”.
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